Presenciamos uma época incomum da história, em face dos avanços nas relações do homem com seu trabalho profissional, com leis que resguardam as necessidades fundamentais do trabalhador, seu direito ao repouso, à assistência nas adversidades da saúde, no entanto, ainda encontramos rupturas desses direitos e injustiças sociais, gerando tensões e conflitos na coletividade.Por outro lado, habitualmente, julgamo-nos demasiadamente superiores e qualificados ao trabalho que o mercado se nos oferece, gerando em nós insatisfações e desânimo. Então, como proceder quando não estivermos inseridos no labor que nos afeiçoamos?
Como sempre, em Jesus aprenderemos o mais elevado padrão de conduta1. Ninguém, como ele, apresentou ao mundo tão belo exemplo sobre como viver de forma prazerosa, usufruindo a alegria da existência, independente do cenário externo que se nos afigure. E, no tocante ao lavor, nos ofereceu a sublime lição de que mais importante que trabalharmos na área que amamos, é sempre amarmos a área em que estivermos trabalhando.
Malgrado fosse o Excelso Governador do planeta, além do mais, co-criador planetário muito antes de sua gênese, habituado ao contato com outros Espíritos Puros em assembleias realizadas no sistema solar2, até iniciar da Sua tarefa messiânica na Terra, exerceu Jesus o nobre e humilde ofício de carpinteiro, na cidade de Nazaré da Galiléia, tendo aprendido desde a infância a arte da carpintaria com seu pai, o também carpinteiro José 3, como era da tradição judaica desde eras mais remotas.
Revelou-nos Humberto de Campos4, que os Doutores do Templo de Jerusalém informaram a Maria, mãe de Jesus, terem ficado muito interessados no ingresso do menino Jesus nas escolas rabínicas, tendo em vista a forte impressão que neles deixara, após as inteligentíssimas respostas apresentadas a esses Doutores da Lei, por ocasião de seu Bar Miztvah, aos doze (para treze) anos de idade4. Essa profissão era a mais cobiçada pela sociedade hebraica, constituindo motivo de orgulho familiar e garantia de um futuro brilhante, não obstante, o jovem Jesus, sem ter sido informado por sua mãe sobre seus planos, com bonomia e resolução ponderou:
- “Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a exemplificação que seja boa, e eu escolherei, desse modo, a escola melhor”.
Assim, apresenta-se, humílimo, ao seu pai José, como ajudante de carpintaria, trabalho rude e pesado, inundando aquela oficina com sua alegria transbordante de vida.
Permitindo-nos a liberdade de fazer um exercício de imaginação, poderemos, sem dificuldade, visualizar o obediente e doce Menino reproduzindo os cuidados de seu pai com a madeira, habilmente manipulando o prego, o martelo, o cinzel, e o enxó, bem como o júbilo no rosto de José ao observar as mãos suaves do Sublime Artífice produzirem belas peças, habilmente entalhadas no madeiro.
Oportuno, imaginamos a beleza das obras em lenho elaboradas pelo Jovem Carpinteiro de Nazaré, posto que viriam a ser reconhecidas não só na sua cidade, como também nas redondezas, haja visto que na Galiléia, ao apresentar-se na sinagoga como o Messias esperado pelo povo hebreu 5, maravilhando a todos ao ensinar sobre o Reino de Amor, fora prontamente identificado pelo seu ofício6.
O amor permeou todos os momentos da vida terrestre do Cristo, porquanto, também permeara sua dedicação à carpintaria e ao madeiro, amando seu pesadíssimo ofício. Somente um grande amor poderia explicar a manutenção de Seu entusiasmo contagiante num trabalho tão penoso, mormente estar habituado à culminância da luz: foram mais de trinta anos em fatigante azáfama.
Conquanto, entressonhamos, quantas vezes o lenho não teria ferido as mãos cariciosas do jovem Moveleiro Galileu? No entanto, quem ama perdoa. E Jesus, por ter elevado o perdão ao grau de excelência, também prosseguiu amando a arte na carpintaria até começar Sua obra de redenção da humanidade, tornando-se o Inolvidável Artífice da alma humana, passando a exercer outro ofício de elevada relevância: Rabi, Mestre, Professor, enfim, Educador de almas.
Seu afastamento do madeiro, entrementes, não perduraria por muito tempo. Em três anos prosseguira, como um hábil Mestre, trabalhando as palavras com grande arte – qual fizera ao madeiro – encantando e comovendo com a simplicidade de seus ensinos, criando parábolas, que ficaram gravadas na memória por mais de vinte séculos. Artista Genial, lapidou a pedra bruta do coração humano, elevando os sentimentos aos patamares diamantinos.
Ao findar Seu ministério de amor e caridade naquela existência planetária, nunca por acaso, volveria a ter contato com o martelo, os pregos e o lenho.
Ele, o Amigo Devotado e Incansável, fora levado a uma condenação de morte infamante e cruel - a crucificação, uma pena aplicada apenas aos soldados romanos desertores e aos mais vis criminosos - sofrendo as dores mais acerbas justamente através do madeiro, dos pregos e do martelo que tanto amara 7.
Seu estado de saúde achava-se tão crítico7 que caíra por três vezes durante esse trajeto, só conseguindo atingir o Monte da Caveira graças ao auxílio de Simão de Cirene 8 - não obstante - ao cair no solo, já em estado de anemia aguda e choque hipovolemico7 , sustentou o madeiro horizontal da cruz, não permitindo que também caísse: ensinou ao mundo inteiro que qualquer homem pode sofrer quedas, mas a tarefa anelada, a missão confiada, essa jamais poderá desmoronar-se. Seu corpo físico derreara ao solo, mas Seu elevado ideal permanecera imarcescível. Ademais, na condição de Carpinteiro Transcendental, não poderia permitir a queda do lenho ao solo. Quanto à forma pela qual Jesus tivera Seus punhos e tornozelos pregados ao madeiro, o qual tanto amara, dados arqueológicos de restos de corpos crucificados, achados próximos a Jerusalém e datados da época de Cristo, indicam que utilizavam-se pregos de ferro, afilados, que possuíam aproximadamente de 13 a 18 cm de comprimento, com a cabeça quadrada tendo aproximadamente 1 cm de largura 7.
Dessa forma, o Meigo Carpinteiro da Galiléia, ao ser pregado à cruz, transformara essa morte infamante numa epopéia celestial, exemplificando o amor, a fidelidade aos amigos e aos ideais, e o perdão - elevados ao mais alto grau em toda a história da civilização - conquanto, a despeito da oprobriosa condenação, Jesus abraçara e se integrara, em plenitude, as ferramentas - o martelo, os pregos e a madeira - da nobilíssima arte a qual tantas vezes se dedicara.
Por conseguinte, amar ao trabalho, por mais árduo e entediante que possa se nos apresentar, transformá-lo em motivação nobre, conquanto não seja àquele anelado em nossos mais altos sonhos, sobretudo, permeá-lo em arte: eis mais um dos inesquecíveis ensinos do Carpinteiro de Deus, em prodigiosa consonância com os desafios da vida moderna.
Não te preocupes em fazer o que amas, na maioria das vidas isso não será possível, porém ama o que você fazes, e serás feliz! Medita nisso! Crê nisso!
Referências bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 74 ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, “Conhecimento da Lei Natural”, parte 3.ª, cap I, questão 625, p.308.
2. XAVIER, Francisco C. A Caminho da Luz, pelo espírito Emmanuel. 11 ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1982, cap I “A Gênese Planetária”, p. 17–23.
3. MATEUS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: A Bíblia Sagrada, traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2ª edição. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Mateus, cap. 13, vers. 55, p. 14.
4. XAVIER, Francisco C. BOA NOVA, pelo Espírito Humberto de Campos. 20a Edição. Rio de Janeiro: FEB, 1941, cap. 2, p. 21-23
5. LUCAS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: A Bíblia Sagrada, traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2ª edição. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Lucas, cap. 4, vers. 21-22, p. 52.
6. MARCOS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: A Bíblia Sagrada, traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2ª edição. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Marcos, cap. 6, vers. 3, p. 35.
7. EDWARDS, W. D; GABEL, W. J.; HOSMER, F. E. : On The Physical Death of Jesus Christ. In: JAMA, The Journal of The American Medical Association (Trabalho científico publicado pelo Departamento de Patologia da Mayo Clinics, Rochester, Minn, EUA). USA. 1986, mar 21, vol 255, n. 11, p 1455 – 1464.
8. XAVIER, Francisco C. A Vida Conta, pelo espírito Maria Dolores. 3 ª edição. Rio de Janeiro: CEU, 1984, cap11 “O Traço do Cirineu”, p. 41–43.
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