TRADUÇÃO “BÍBLIA DE JESRUSALÉM”
10. porque está escrito: “Ele dará ordens a seus anjos a teu respeito, para que te guardem; 11. e ainda: E eles te tomarão pelas mãos, para não tropeces em nenhuma pedra”.
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Sobre a impossibilidade de existir um ser, quer seja chamado arimane, diabo ou satanaz, em condição de opositor de Deus, leiamos: Allan Kardec, em A Gênese:
Cap. III, itens 1, 2 e 3 (A. Kardec analisa a origem do bem e do mal).
Cap. XIII, itens 16 (A. Kardec conduz-nos à compreensão sobre Leis Divinas, imutáveis e irrevogáveis)
Cap. XIV, itens 12 (A. Kardec explica-nos sobre a ilógica da existência de Deus, sendo Infinitamente Perfeito, e de um Satanáz, como Seu eterno opositor)
Ademais, sobre as explicações de “A Tentação no Deserto” tratar-se de um alegoria, ou uma parábola, recomendamos, ainda, a releitura da exegese – prodigiosa – de Allan Kardec, que está contida também em A Gênese, no seu capítulo XV, itens 52 e 53, acerca da “Tentação no Deserto”.
Nas tentações anteriores Jesus redargüiu ao “inimigo” usando como fundamentação o próprio Antigo Testamento. Malgrado, na terceira tentação, é o “diabolos” quem aproveita as Escrituras para negociar com Jesus. Evidentemente, nesse simbolismo, o diabo faz uma adulteração do Antigo Testamento, com o intuito de adaptá-la aos seus interesses nefastos.
Na alegoria da tentação, essa frase teria sido dita pelo diabo, que a havia adulterado do original do salmo 91, “Sob as Asas Divinas”: 11, “pois em teu favor ele ordenou aos seus anjos que te guardem em teus caminhos todos”; 12, “Eles te levarão em mãos, para que teus pés não tropecem numa pedra”.
Nesse simbolismo, que serve de profunda reflexão aos cristãos em geral, e aos espíritas em particular, urge exercer grande cuidado com os livros que adulteram a pureza da doutrina espírita, com os livros que nela tentam enxertar meias-verdades - que são, de fato, mentiras completas - no afã de implodir o edifício da Doutrina Espírita, corroendo-o de dentro para fora.
Os livros espíritas são como a nascente da fonte de nossa religião. Se houver a poluição em seu nascedouro, todo o rio ficará corrompido, e insalubre. Portanto, a alegoria da terceira tentação serve-nos de alerta, face às tentativas dos “inimigos” da Verdade em trazer prejuízo à Obra do Espírito de Verdade.
Importante relembrar as orientações Kardecianas pertinentes ao nosso papel, enquanto colaboradores da Seara Espírita, e responsáveis pela sua divulgação. Assim se pronunciou Allan Kardec:
"[...] Sem dúvida o Espiritismo está muito espalhado; contudo, estaria ainda mais se todos os adeptos tivessem seguido os conselhos da prudência e guardado uma prudente reserva. Sem dúvida é preciso levar-lhes em conta a intenção, mas é certo que mais de um tem justificado o provérbio: Mais vale um inimigo confesso que um amigo inconveniente. O pior disto é fornecer armas aos adversários, que sabem explorar habilmente uma inconveniência. Nunca seria demais recomendar aos espíritas que refletissem maduramente antes de agir. Não tendo em vista senão o bem da causa, o verdadeiro espírita sabe fazer abnegação do amor próprio. Crer em sua própria infalibilidade, recusar o conselho da maioria e persistir num caminho que se demonstra mau e comprometedor, não é atitude de um verdadeiro espírita. Seria dar prova de orgulho, se não de obsessão.
[...] Entre as inabilidades é preciso colocar em primeira linha as publicações intempestivas ou excêntricas, por serem os fatos de maior repercussão. Nenhum espírita ignora que os Espíritos estão longe de possuir a soberana ciência; muitos dentre eles sabem menos que certos homens e, como certos homens também, têm a pretensão de tudo saber. Sobre todas as coisas têm sua opinião pessoal, que pode ser justa ou falsa. Ora, ainda como os homens, em geral os que têm idéias mais falsas são os mais obstinados. Esses pseudo-sábios falam de tudo, constroem sistemas, criam utopias ou ditam as coisas mais excêntricas, sentindo-se felizes quando encontram intérpretes complacentes e crédulos que lhes aceitam as elucubrações de olhos fechados.
[...] Já chamamos a atenção para essa manobra no relatório de nossa viagem de 1862, porque, em nosso caminho, recebemos três beijos de Judas, com os quais não nos enganamos, embora não nos tivéssemos manifestado. Aliás, tínhamos sido prevenidos antes de nossa partida das armadilhas que nos seriam estendidas. Mas ficamos de olho, certo de que um dia seriam desmascarados, porque é tão difícil a um falso espírita, quanto a um mau Espírito, simular um Espírito superior. Nem um nem outro podem sustentar por muito tempo o seu papel.
[...] O que caracteriza principalmente esses pretensos adeptos é a tendência a fazer o Espiritismo sair dos caminhos da prudência e da moderação por seu ardente desejo do triunfo da verdade; a estimular as publicações excêntricas; a extasiar-se de admiração ante as comunicações apócrifas mais ridículas, e que têm o cuidado de espalhar; a provocar nas reuniões assuntos comprometedores sobre política e religião, sempre pelo triunfo da verdade, que não pode ficar debaixo do alqueire; seus elogios aos homens e às coisas são bajulações de arrepiar: são os fanfarrões do Espiritismo. Outros são mais afetados e hipócritas; com olhar oblíquo e palavras melífluas sopram a discórdia enquanto pregam a união. Suscitam com habilidade a discussão de questões irritantes ou ferinas, capazes de provocar dissidências. Excitam uma inveja de predominância entre os vários grupos e ficariam contentíssimos se os vissem a se apedrejarem e, em favor de algumas divergências de opinião sobre certas questões de forma ou de fundo, geralmente provocadas, erguem bandeira contra bandeira."
Allan Kardec, Revista Espírita, março de1863
Recomendamos a leitura do artigo “FIDELIDADE DOUTRINÁRIA”, de autoria do professor José Passini:
“ Há pessoas que estão sempre a buscar atalhos, soluções prontas, para agirem sem o esforço da análise, do exame cuidadoso, conforme recomenda o Apóstolo Paulo: “Examinai tudo; retende o bem.” (I Ts, 5: 21). Essas pessoas, por certo, ainda não entenderam a inspirada assertiva do Codificador, ao grafar na folha-de-rosto do primeiro livro eminentemente religioso da Doutrina, O Evangelho segundo o Espiritismo: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”
O esforço para a construção dessa fé inabalável é penoso para aqueles que desejam receber tudo pronto. Os que assim se posicionam têm muitas dúvidas no terreno da fidelidade doutrinária. Seria do seu agrado o estabelecimento de um index para orientar o que deveriam ler, de um manual de procedimentos para as atividades desenvolvidas nos centros espíritas e, também, de uma cartilha de orientação para o seu próprio procedimento em sociedade.
Em relação à fidelidade doutrinária, há posições as mais variadas assumidas pelas pessoas. Há aquelas que desejariam houvesse uma lista de obras “condenadas”, o que lhes facilitaria a escolha para a leitura de informações seguras, sem terem que “esquentar a cabeça”.
No outro extremo, outras há que reagem negativamente a qualquer tipo de avaliação ou de juízo formulado sobre uma publicação, tachando tal ato como estabelecimento de um index.
Nesse contexto, deve ser lembrado que uma das características marcantes do Espiritismo é exatamente a liberdade que confere aos seus profitentes. Liberdade aprendida com Jesus, que nunca constrangeu ninguém a fazer ou deixar de fazer algo, simplesmente porque lhe fora ordenado.
O Mestre sempre buscava levar o ouvinte a entender os seus ensinamentos, raciocinando sobre eles, o que obtinha através dos diálogos que estabelecia.
Muitas passagens discutíveis do Novo Testamento, muitas palavras e frases atribuídas a Jesus, lá estão porque o Alto o permitiu. Apesar de muitos cortes, acréscimos e adaptações, o essencial foi conservado intacto. O que se tornou objeto de discussão serve para aprendermos a raciocinar em termos de fé e exercitarmos o bom-senso. Se Jesus tivesse vindo para trazer-nos fórmulas acabadas de salvação – tão a gosto dos simplistas – não teria sido carpinteiro, mas sim canteiro, pois trabalhando com pedras teria oportunidade de deixar seus ensinamentos insculpidos em lajes, como verdadeiras “receitas” de salvação, a serem seguidas ipsis verbis pelos séculos afora.
Esse desejo do Mestre, de conduzir seus discípulos ao estudo e à reflexão, fica muito claro quando recomenda: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (Jo, 8: 32).
Dentro dessa perspectiva, como encontrar o ponto de equilíbrio entre os que querem um index e um manual de procedimentos, e aqueles que advogam liberdade ampla, total e irrestrita? Avaliar se uma obra ou uma prática está em consonância com os princípios doutrinários é tarefa para quem conhece realmente a Doutrina. Daí, a necessidade do estudo, da reflexão, da análise serena e desapaixonada, a fim de que se chegue à conclusão do que está de acordo e do que está em confronto com as verdades que o Espiritismo esposa.
A preservação da fidelidade doutrinária no que diz respeito às práticas desenvolvidas numa entidade espírita é mais fácil, pois ninguém usaria velas, bebidas, fumaça, roupas especiais, imagens, rituais, etc. Entretanto, quando se trata do uso da palavra, seja oralmente, seja por escrito, a tarefa de verificação se torna mais difícil. Mais difícil porque esbarra, quase sempre, no personalismo camuflado numa capa de inovação, renovação, atualização, etc.
A mediunidade tem sido veículo para a divulgação de muitas “novidades” que deveriam ter merecido acurado exame antes de se terem transformado em folhetos e, principalmente, em livros. Infelizmente, o encantamento provocado pelo fenômeno ainda oblitera a visão de muitos, conduzindo-os a entendimentos equivocados.
Se houvesse mais estudo da Codificação, por certo o número de obras anti-doutrinárias existentes, tanto pela ação de médiuns quanto de leitores seria bem menor, para não dizermos nulo. Temos o exemplo maior em Kardec, que se conservou sereno e judicioso, embora a imensa emoção que deve ter sentido ao comprovar a imortalidade da alma, ao “descobrir” o Mundo Espiritual, e ao verificar o relacionamento efetivo entre encarnados e desencarnados. É oportuno seja lembrada a sempre atual advertência de Erasto, que Kardec inseriu em O Livro dos Médiuns: “Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea.” (item 230).
A necessidade do uso do bom-senso no campo da mediunidade é evidenciada desde os tempos apostólicos, conforme se aprende com o Apóstolo Paulo – seguramente a maior autoridade em assuntos mediúnicos no Cristianismo nascente – que recomenda: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.” (I Co, 14: 29). O mesmo cuidado é recomendado por João: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”. (I Jo, 4: 1).
Essas recomendações continuam atualíssimas, diante do momento que vivemos, pois atravessamos um período que nos requer muita atenção relativamente à fidelidade doutrinária, principalmente no campo mediúnico voltado à produção de livros. Note-se que o vocábulo produção é intencionalmente usado aqui para substituir publicação, pela verdadeira avalancha de obras mediúnicas que invadem as prateleiras das livrarias.
Há uma ânsia desenfreada de se publicar tudo o que médiuns invigilantes produzem, sequiosos de verem seus nomes em capas de livros. Há editoras que descobriram um verdadeiro filão de ouro no meio espírita.
Muitos dos que adquirem livros pensando estarem ajudando instituições de amparo a necessitados não são informados do que resta no final, depois de deduzidas as despesas e os ganhos das editoras... Se há grande profissionalismo editorial, felizmente, o profissionalismo mediúnico, no que se refere à literatura espírita ficou restrito a conhecida família, que não mais se pode dizer espírita, mas sim praticante de mediunidade apenas.
Os adversários do Espiritismo de há muito desistiram de combatê-lo através de ataques exteriores. Agora, eles se imiscuem no nosso meio, onde quase que imperceptivelmente, valendo-se da invigilância de muitos, buscam lançar o descrédito através de mensagens fantasiosas, quando não ridículas. Por isso, no quadro atual, mais que nunca, os médiuns devem pôr em prática o “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação (...)”. (Mt, 26: 41).
Diante do exposto, fica claro que não se pode nem estabelecer um manual de procedimentos, nem elaborar um index, objetivando a preservação da fidelidade doutrinária. Mas, então, como proceder diante dessa quantidade imensa de obras inovadoras e de posicionamentos inusitados, cujas “revelações” e “modernizações” vão desde o simplesmente discutível ao claramente anti-doutrinário?
Em atitudes discretas, equilibradas, ao amparo da oração sincera, cada espírita consciente deve constituir-se em guardião fiel dos princípios doutrinários, o que conseguirá através do estudo, da reflexão, do uso do bom-senso.”
José Passini, Publicado na Revista Internacional de Espiritismo em Nov. 2003
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