CENA DO FILME "JESUS DE NAZARÉ", DE FRANCO ZEFFIRELLI
A ALEGRIA TERAPÊUTICA DE JESUS
Artigo publicado na Revista Despertar Espírita, do Clube de Arte, Informativo Mensal - Rio/RJ, Ano V - nº 63 - setembro de 2008.
Autor: Fabiano P Nunes
Autor: Fabiano P Nunes
A ciência médica tem nos oferecido demonstrações incontentáveis da eficácia e eficiência do bom humor e da alegria no reequilíbrio físico e mental do ser humano.
O júbilo e o riso, através das conexões neuro-hormonais entre o cérebro, a constelação glandular e as células da imunidade, produzem estado de bem estar e harmonia no funcionamento da secreção hormonal, do sistema nervoso vegetativo e do sistema imune.
Experiências com os pacientes internados em hospitais de oncologia que receberam visitas dos grupos de voluntários que prestam ajudam através do humor terapêutico – por exemplo, os “doutores alegrias” e os “hospitalhaços” - evidenciaram significativos benefícios da ação do riso no processo terapêutico. Esses pacientes, especialmente as crianças, apresentaram um menor tempo de internação, melhor resposta clínica, e, sobretudo, seus familiares e os profissionais da saúde apresentaram menores índices de estresse e ansiedade. Conquanto, a alegria, o riso e o bom humor vêm sendo objetos de estudo dos pesquisadores, que já identificaram vários mensageiros químicos e humores acionados pela ação dessas emoções positivas. Por conseguinte, demonstrou-se também aumento da atividade imune e da vigilância antitumoral dos linfócitos responsáveis pelas defesas orgânicas contra infecções e tumores.
Jesus, o Amigo infatigável de toda a humanidade, é o Modelo e Guia da mais perfeita alegria de viver.
A vida havia sido muito dura e áspera com Jesus desde o nascimento, no entanto, o Mestre inesquecível apresenta como reações psicológicas as mais belas demonstrações de alegria e de bom ânimo. Seus discursos são repletos de otimismo revigorante, desvelando a mais positiva visão acerca da vida. Malgrado as perseguições acerbas e o açodar das vicissitudes, Sua postura transcende uma felicidade contagiante, pregando o regozijo do prazer de servir, e expandindo o júbilo no amor e caridade sem condições.
A Revelação Espírita, através das comunicações espirituais trazidas pela mediunidade segura e abençoada de Francisco Cândido Xavier, nos desvelou a ímpar alegria, otimismo e bom humor do Cristo de Deus. Em obras como “Paulo e Estevão, “Jesus no Lar”, “Há Dois Mil Anos” e “Boa Nova” podemos, facilmente, apreender ser o “sorriso divino” do Doce Rabi Sua marca indelével.
Desde o inicio do Seu sublime ministério, até as últimas horas de Sua vida na terra , Jesus empreende energias em ensinar a arte de pensar e viver com contentamento. Conforme a narrativa do evangelista João, na última ceia, antes de Sua execução na cruz, conquanto os amigos, familiares e discípulos estivessem imersos em profunda tristeza e melancolia, O Mestre Memorável apresentou um discurso rico de exultação e de esperança, declarando claramente o desejo de deixar Sua própria alegria por herança aos seus entes amados:
”Tenho-vos dito isso para que a minha alegria permaneça em vós, e a vossa alegria seja completa”. JESUS (João 15: 11).
Deste modo, diante das atribulações da vida, busquemos no bom humor a medicação salutar que possibilita o bem estar físico e mental, e de igual modo ofereçamos – aos irmãos necessitados do caminho – o sorriso amigo e generoso que contagia, para que a alegria de Jesus seja conosco e nossa felicidade seja plena.
Um forte abraço do amigo Fabiano Nunes
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TRANSPARÊNCIA
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA CULTURA ESPÍRITA - ICEB, ANO I, N. 4, JULHO DE 2009
Autor: Fabiano P Nunes
Vivemos um período ímpar da história, em que o mundo moderno demanda altos padrões de honestidade, nas relações interpessoais e profissionais.
Vivemos um período ímpar da história, em que o mundo moderno demanda altos padrões de honestidade, nas relações interpessoais e profissionais.
Nada obstante, habitualmente assumimos posturas que ocultam nossos verdadeiros sentimentos e intenções, com o fito de preservamos nosso ego de frustrações e sofrimentos, gerando-nos insatisfações e conflitos íntimos.
Em outras situações, dissimulamos sentimentos pusilânimes ou venais, laborando com malícia e maquiavelismo, em face das imperfeições morais que ainda conservamos.
As naturais consequencias de tais procedimentos serão, sempre, a dor, o sofrimento ou a doença, poderosas ferramentas que a Lei de Deus – misericordiosamente – aplica para a correção do nosso caráter.
Como sempre, em Jesus - o Cristo de Deus - aprendemos o mais elevado padrão de comportamento.
Jesus, de forma inaudita, é o Modelo e Guia da perfeita transparência de sentimentos, desvelando ao homem a mais inequívoca demonstração sobre como viver livre da aparência enganadora.
Revelaram-nos os Benfeitores Espirituais, especialmente pela psicografia de Chico Xavier, que os sentimentos de Jesus eram de uma clareza tão diamantina que facilmente se fazia possível compreender Sua mensagem, não somente através do sorriso largo e amistoso com que acolhia todos que O procuravam, como também pelo olhar afável e leal que pousava sobre os que O encontraram.
Sem dissimulação ou hipocrisia, falava com franqueza e bondade.
Conforme percebemos em João (capítulo 6, Versículos 66 e 67), muito dos discípulos e seguidores que O acompanhavam desistiram do Evangelho: “À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele”. No entanto, em uma atitude de imensuráveis transparência e lisura, Jesus voltou-se para Os Doze Apóstolos, questionando-os, “à queima roupa”:
“Porventura, quereis também vós outros retirar-vos?”
Raramente na história alguém procedeu com seus amigos com tanta diafaneidade de caráter.
Observemos, igualmente, a postura de Jesus em relação à admoestação acirrada dos Doutores da Lei da Judéia, as principais autoridades religiosas e judiciárias da época.
Malgrado Jesus fosse fiel e devotado cumpridor das Leis, romanas e hebraicas, essas autoridades estavam sempre presentes em Suas pregações, buscando encontrar provas que O incriminassem como subversivo e traidor.
Quem foram esses prelados? Foram eles:
Os fariseus, cuja etimologia significa os “separados”, os “distinguidos”, ou os “abalizados”. Essa seita judaica fazia uma interpretação das Escrituras ao pé da letra, por isso, se perdiam em regras, práticas exteriores e normas que acabavam fazendo-os esquecer a essência do Judaísmo, que é o amor.
Os Escribas, aqueles que escreviam a Lei, e faziam a interpretação para o povo, portanto, dela eram profundos conhecedores. Todo fariseu era um escriba, mas nem todo escriba era fariseu.
Os Saduceus, que constituíam a elite do povo e da classe sacerdotal, os quais costumavam ocupar o cargo de Sumo Sacerdote, na época de Jesus. Acreditavam em Deus e nos Profetas, mas não criam na imortalidade da alma.
O apóstolo João, também narra no capítulo 8, versículo 46, do seu evangelho, que Jesus encontrava-se sob o açodar das criticas desses Doutores da Lei.
De todas as maneiras, buscavam colocar Jesus em contradição, ou mesmo em oposição, às Leis Judaicas – conquanto – o discurso de Jesus transcendia em inteligência, ao ponto de emudecê-los, em razão de Suas argumentações desconcertantes.
A inteligência de Suas exposições só era superada pela vida reta e incorruptível que transluzia para todo o povo. Foi por essa razão que, no aludido capítulo de João, Jesus argúi aos Doutores:
- “Quem dentre vós me convence de pecado?”
A tradução dessa expressão de linguagem tem por significado interrogar quem – dentre todos os presentes – poderia apontar uma única situação na vida de Jesus que pudesse criticada, ou pelo menos apontar alguma atitude, palavra ou pensamento, que pudesse ser qualificada como “pecaminosa” ou equivocada. Inolvidável cristalinidade de sentimentos e ações.
Dessa forma, apresentou ao mundo o mais singelo – e imitável - modelo de como viver mantendo elevados padrões de honestidade e integridade, de como agir conforme os ditames da consciência e - sobretudo – de como pensar, sentir, falar e obrar numa extraordinária combinação de transparência e bonomia.
Sigamo-lo, pois!
Um abraço fraternal do seu amigo Fabiano P Nunes.
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INCLUSÃO SOCIAL
INCLUSÃO SOCIAL
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA CULTURA ESPÍRITA - ICEB, ANO I, N. 8, NOVEMBRO DE 2009
Autor: Fabiano P Nunes
A Inclusão Social é uma importante política que combate a exclusão dos desfavorecidos, usualmente, grupos sob risco social como idosos, minorias étnicas, e especialmente, os portadores de deficiências físicas ou mentais, oferecendo-lhes oportunidades de também participarem dos direitos e deveres de forma justa e igualitária.
Outrossim, a exclusão social tem profunda correlação com o preconceito e a discriminação.
No nosso país, o pensamento da inclusão social orientou o Estado na elaboração de políticas e leis voltadas ao atendimento das necessidades especiais de deficientes, somente, nos últimos 50 anos.
Infelizmente, o preconceito ainda permeia as relações da nossa sociedade, constituindo desafio para todos os cidadãos. A problemática, não obstante, remonta a antiguidade, estando presente nas diversas civilizações da história.
Na tradição do povo hebreu, ao tempo de Jesus, existia grande carga de preconceito para com portadores de doenças e males, pois acreditava se tratar de uma punição de Deus pelos pecados, ou pelo de seus antepassados.
Acrescentava-se a isso a idéia da proibição de se tocar em determinadas pessoas enfermas, os chamados “imundos”. Essas práticas ocorriam em decorrência da interpretação equivocada das leis Mosaicas, sobretudo do livro Levítico.
A consequência natural desse pensamento eram a discriminação e a exclusão social dos hebreus que estivessem nas condições que os tornassem “imundos”, e de modo especial, por haverem sido apenados por Deus.
Como sempre, em Jesus aprenderemos o mais elevado padrão de conduta.
Ninguém, como ele, apresentou ao mundo tão belo exemplo sobre como tratar aos necessitados de toda ordem, superando os abismos do prejulgamento, operando de forma a reinseri-los no trabalho e na alegria da vida comunitária, independente do contexto que se lhes afigurasse.
E, especificamente, no procedimento para com os “imundos”, e as demais vítimas do enjeitamento e da segregação, nos ofereceu a sublime lição de respeito e compaixão para com os marginalizados da sociedade.
Um dos belos exemplos da preocupação do Mestre Incomparável com os excluídos é descrito nos Evangelhos.
Em determinado sábado1, Jesus entrara numa sinagoga, e enquanto ensinava observara haver um homem apartado do grupo. Ele possuía a mão – direita1 – mirrada (atrofiada).
Sobre esse processo patológico, o insígne professor Carlos Oswaldo Degrazia2, em seu admirável artigo publicado no Jornal do Conselho Federal de Medicina, alegou acreditar tratar-se de uma gangrena seca, causada pela diminuição contínua e prolongada da circulação sanguínea na mão do enfermo bíblico, levando à “mumificação” dessa mão.
Tal processo, no entanto, poderia ser revertido em determinadas condições, com o consequente restabelecimento do fluxo nos vasos sanguíneos obstruídos.
Escribas e fariseus observavam o Alegre Rabi, a fim de obterem provas de suas transgressões à Lei Mosaica, visto que - na interpretação dessas seitas judaicas - tais leis proibiriam os trabalhos de cura no Sabbat, dia que deveria ser dedicado ao repouso e à adoração do Senhor.
Conquanto, Jesus promovera incontáveis curas no Sabbat, com o fito de ensinar a real exegese do Torah, onde a mais sublime forma de consagrar a Deus um dia da semana é vivê-lo com amor e compaixão, na plenitude da caridade, porquanto, afirmara que “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” 3.
Por essa razão, auscultando o pensamento dos escribas e fariseus, em um ato de formidável comiseração, convida o homem da mão atrofiada para que supere a si mesmo, e ingresse no círculo dos que comungavam com Deus na sinagoga, dizendo:
– “levanta-te e fica de pé no meio de todos”1.
O homem ergueu-se, avançou para um lugar de destaque, muito próximo ao Mestre do Amor, ouvindo Sua voz reconfortante a dizer-lhe:
- “Estende a Mão”1.
Aquele homem era um dos intocáveis, um excluído, todavia, agora estava interposto nos seus direitos como um Filho de Abraão, e mais ainda, integrante do grupo, ilimitável, de amigos do Messias de Israel.
Ao apresentar a mão atrofiada ao Médium de Deus, Dele recebera o toque afetuoso e a energia prodigiosa, voltando a ter sua mão direita perfeitamente normal, como a esquerda4.
Eis mais um dos inesquecíveis ensinos do Rabboni (significa Mestre Superior) de Deus!
Apreendamos com Ele, pois, a inolvidável lição para uma vida livre dos corrosivos preconceitos, laborando na coletividade pela reinserção dos enjeitados nos seus direitos fundamentais, sobretudo, daqueles que estão em situação de risco social.
Meditemos nisso! Um abraço do seu amigo Fabiano P Nunes
Meditemos nisso! Um abraço do seu amigo Fabiano P Nunes
Referências Bibliográficas
1. LUCAS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: Bíblia de Jerusalém. Português. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002. Lucas, cap. 6, vers. 6 - 11, p. 1798.
2. DEGRAZIA, Carlos O. O homem da mão seca. Jornal do Conselho Federal de Medicina, n. 152, Dezembro de 2004/ Janeiro 2005.
3. MARCOS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: Bíblia de Jerusalém. Português. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002. Marcos, cap. 2, vers. 27, p. 1762.
4. MARCOS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: Bíblia de Jerusalém. Português. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002. Marcos, cap. 3, vers. 3, p. 1762.
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AMOR À PROFISSÃO: APRENDENDO COM JESUS
Autor: Fabiano P Nunes
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA CULTURA ESPÍRITA - ICEB - AGOSTO DE 2010
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA CULTURA ESPÍRITA - ICEB - AGOSTO DE 2010
Presenciamos uma época incomum da história, em face dos avanços nas relações do homem com seu trabalho profissional, com leis que resguardam as necessidades fundamentais do trabalhador, seu direito ao repouso, à assistência nas adversidades da saúde, no entanto, ainda encontramos rupturas desses direitos e injustiças sociais, gerando tensões e conflitos na coletividade.Por outro lado, habitualmente, julgamo-nos demasiadamente superiores e qualificados ao trabalho que o mercado se nos oferece, gerando em nós insatisfações e desânimo. Então, como proceder quando não estivermos inseridos no labor que nos afeiçoamos?
Como sempre, em Jesus aprenderemos o mais elevado padrão de conduta1. Ninguém, como ele, apresentou ao mundo tão belo exemplo sobre como viver de forma prazerosa, usufruindo a alegria da existência, independente do cenário externo que se nos afigure. E, no tocante ao lavor, nos ofereceu a sublime lição de que mais importante que trabalharmos na área que amamos, é sempre amarmos a área em que estivermos trabalhando.
Malgrado fosse o Excelso Governador do planeta, além do mais, co-criador planetário muito antes de sua gênese, habituado ao contato com outros Espíritos Puros em assembleias realizadas no sistema solar2, até iniciar da Sua tarefa messiânica na Terra, exerceu Jesus o nobre e humilde ofício de carpinteiro, na cidade de Nazaré da Galiléia, tendo aprendido desde a infância a arte da carpintaria com seu pai, o também carpinteiro José 3, como era da tradição judaica desde eras mais remotas.
Revelou-nos Humberto de Campos4, que os Doutores do Templo de Jerusalém informaram a Maria, mãe de Jesus, terem ficado muito interessados no ingresso do menino Jesus nas escolas rabínicas, tendo em vista a forte impressão que neles deixara, após as inteligentíssimas respostas apresentadas a esses Doutores da Lei, por ocasião de seu Bar Miztvah, aos doze (para treze) anos de idade4. Essa profissão era a mais cobiçada pela sociedade hebraica, constituindo motivo de orgulho familiar e garantia de um futuro brilhante, não obstante, o jovem Jesus, sem ter sido informado por sua mãe sobre seus planos, com bonomia e resolução ponderou:
- “Mãe, toda preparação útil e generosa no mundo é preciosa; entretanto, eu já estou com Deus. Meu Pai, porém, deseja de nós toda a exemplificação que seja boa, e eu escolherei, desse modo, a escola melhor”.
Assim, apresenta-se, humílimo, ao seu pai José, como ajudante de carpintaria, trabalho rude e pesado, inundando aquela oficina com sua alegria transbordante de vida.
Permitindo-nos a liberdade de fazer um exercício de imaginação, poderemos, sem dificuldade, visualizar o obediente e doce Menino reproduzindo os cuidados de seu pai com a madeira, habilmente manipulando o prego, o martelo, o cinzel, e o enxó, bem como o júbilo no rosto de José ao observar as mãos suaves do Sublime Artífice produzirem belas peças, habilmente entalhadas no madeiro.
Oportuno, imaginamos a beleza das obras em lenho elaboradas pelo Jovem Carpinteiro de Nazaré, posto que viriam a ser reconhecidas não só na sua cidade, como também nas redondezas, haja visto que na Galiléia, ao apresentar-se na sinagoga como o Messias esperado pelo povo hebreu 5, maravilhando a todos ao ensinar sobre o Reino de Amor, fora prontamente identificado pelo seu ofício6.
O amor permeou todos os momentos da vida terrestre do Cristo, porquanto, também permeara sua dedicação à carpintaria e ao madeiro, amando seu pesadíssimo ofício. Somente um grande amor poderia explicar a manutenção de Seu entusiasmo contagiante num trabalho tão penoso, mormente estar habituado à culminância da luz: foram mais de trinta anos em fatigante azáfama.
Conquanto, entressonhamos, quantas vezes o lenho não teria ferido as mãos cariciosas do jovem Moveleiro Galileu? No entanto, quem ama perdoa. E Jesus, por ter elevado o perdão ao grau de excelência, também prosseguiu amando a arte na carpintaria até começar Sua obra de redenção da humanidade, tornando-se o Inolvidável Artífice da alma humana, passando a exercer outro ofício de elevada relevância: Rabi, Mestre, Professor, enfim, Educador de almas.
Seu afastamento do madeiro, entrementes, não perduraria por muito tempo. Em três anos prosseguira, como um hábil Mestre, trabalhando as palavras com grande arte – qual fizera ao madeiro – encantando e comovendo com a simplicidade de seus ensinos, criando parábolas, que ficaram gravadas na memória por mais de vinte séculos. Artista Genial, lapidou a pedra bruta do coração humano, elevando os sentimentos aos patamares diamantinos.
Ao findar Seu ministério de amor e caridade naquela existência planetária, nunca por acaso, volveria a ter contato com o martelo, os pregos e o lenho.
Ele, o Amigo Devotado e Incansável, fora levado a uma condenação de morte infamante e cruel - a crucificação, uma pena aplicada apenas aos soldados romanos desertores e aos mais vis criminosos - sofrendo as dores mais acerbas justamente através do madeiro, dos pregos e do martelo que tanto amara 7.
Seu estado de saúde achava-se tão crítico7 que caíra por três vezes durante esse trajeto, só conseguindo atingir o Monte da Caveira graças ao auxílio de Simão de Cirene 8 - não obstante - ao cair no solo, já em estado de anemia aguda e choque hipovolemico7 , sustentou o madeiro horizontal da cruz, não permitindo que também caísse: ensinou ao mundo inteiro que qualquer homem pode sofrer quedas, mas a tarefa anelada, a missão confiada, essa jamais poderá desmoronar-se. Seu corpo físico derreara ao solo, mas Seu elevado ideal permanecera imarcescível. Ademais, na condição de Carpinteiro Transcendental, não poderia permitir a queda do lenho ao solo. Quanto à forma pela qual Jesus tivera Seus punhos e tornozelos pregados ao madeiro, o qual tanto amara, dados arqueológicos de restos de corpos crucificados, achados próximos a Jerusalém e datados da época de Cristo, indicam que utilizavam-se pregos de ferro, afilados, que possuíam aproximadamente de 13 a 18 cm de comprimento, com a cabeça quadrada tendo aproximadamente 1 cm de largura 7.
Dessa forma, o Meigo Carpinteiro da Galiléia, ao ser pregado à cruz, transformara essa morte infamante numa epopéia celestial, exemplificando o amor, a fidelidade aos amigos e aos ideais, e o perdão - elevados ao mais alto grau em toda a história da civilização - conquanto, a despeito da oprobriosa condenação, Jesus abraçara e se integrara, em plenitude, as ferramentas - o martelo, os pregos e a madeira - da nobilíssima arte a qual tantas vezes se dedicara.
Por conseguinte, amar ao trabalho, por mais árduo e entediante que possa se nos apresentar, transformá-lo em motivação nobre, conquanto não seja àquele anelado em nossos mais altos sonhos, sobretudo, permeá-lo em arte: eis mais um dos inesquecíveis ensinos do Carpinteiro de Deus, em prodigiosa consonância com os desafios da vida moderna.
Não te preocupes em fazer o que amas, na maioria das vidas isso não será possível, porém ama o que você fazes, e serás feliz! Medita nisso! Crê nisso!
Referências bibliográficas:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 74 ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994, “Conhecimento da Lei Natural”, parte 3.ª, cap I, questão 625, p.308.
2. XAVIER, Francisco C. A Caminho da Luz, pelo espírito Emmanuel. 11 ª edição. Rio de Janeiro: FEB, 1982, cap I “A Gênese Planetária”, p. 17–23.
3. MATEUS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: A Bíblia Sagrada, traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2ª edição. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Mateus, cap. 13, vers. 55, p. 14.
4. XAVIER, Francisco C. BOA NOVA, pelo Espírito Humberto de Campos. 20a Edição. Rio de Janeiro: FEB, 1941, cap. 2, p. 21-23
5. LUCAS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: A Bíblia Sagrada, traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2ª edição. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Lucas, cap. 4, vers. 21-22, p. 52.
6. MARCOS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: A Bíblia Sagrada, traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2ª edição. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Marcos, cap. 6, vers. 3, p. 35.
7. EDWARDS, W. D; GABEL, W. J.; HOSMER, F. E. : On The Physical Death of Jesus Christ. In: JAMA, The Journal of The American Medical Association (Trabalho científico publicado pelo Departamento de Patologia da Mayo Clinics, Rochester, Minn, EUA). USA. 1986, mar 21, vol 255, n. 11, p 1455 – 1464.
8. XAVIER, Francisco C. A Vida Conta, pelo espírito Maria Dolores. 3 ª edição. Rio de Janeiro: CEU, 1984, cap11 “O Traço do Cirineu”, p. 41–43.
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TOQUE EM JESUS
Artigo publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, Ano II, n. 15, Junho de 2010.
Autor: Fabiano Pereira Nunes
Afirmam os estudiosos que a postura de Jesus, face às determinações das leis hebraicas vigentes na Província da Judéia, trazia grande indignação nas autoridades do Templo de Jerusalém, as quais constituíam a Corte Suprema do povo Hebreu. Sob determinado ponto de vista, as ações do Carpinteiro de Nazaré sublevavam as Leis Mosaicas.
O livro de Moisés, Levítico1, definia – especialmente em seus capítulos 11 a 15 - quais as condições que tornariam um hebreu “imundo”, isto é, “impuro”, bem como as sanções aplicáveis nesses casos. Destarte, muitas condições de “imundice” tornavam expressamente proibitivo qualquer tipo de contato físico com as pessoas “limpas” ou puras, como por exemplo: "Se alguém, sem se aperceber tocar a imundícia de um homem, seja qual for a imundícia com que este se tornar imundo, quando o souber será culpado", Levítico 5:3; "Também aquele que tocar na carne do que tem o fluxo[sangue], lavará as suas vestes, e se banhará em água, e será imundo até a tarde", Levítico 15:7; "Mas a mulher, quando tiver fluxo, e o fluxo na sua carne for sangue, ficará na sua impureza por sete dias, e qualquer que nela tocar será imundo até a tarde", Levítico 15:19.
Aqueles que se tornassem “imundos”, deveriam cumprir regras de purificação, ou como no caso dos leprosos, serem afastados do convívio social, tendo seus pertences e residências queimados.
Na tradição das leis vigorantes ao tempo de Jesus, seria totalmente inaceitável que as pessoas “imundas” tocassem um Rabi – representante da pureza no sentido mais profundo da crença religiosa – culminando os casos mais graves à pena de morte para os que assim a infringissem.
Todas as leis são passíveis de interpretação, e Jesus trazia a verdadeira exegese das Escrituras Sagradas.
Por tal razão, fora confundido como um subversivo das leis, quando - em verdade - delas era o fiel cumpridor e o mais perfeito intérprete.
Contrariando os preceitos ortodoxos da época, o Rabi do Amor era grandemente tocado pelos portadores de condições para a “impureza”, visto que eram justamente os “imundos” os maiores necessitados de seu toque afetuoso1: "E toda a multidão procurava tocar-lhe; porque saía dele poder que curava a todos”, Lucas 6:19; "Perguntou Jesus: Quem é que me tocou? Como todos negassem, disse-lhe Pedro: Mestre, as multidões te apertam e te oprimem, Mas disse Jesus: Alguém me tocou; pois percebi que de mim saiu poder", Lucas, 8:45-6.
Não por acaso era chamado pelo povo de Rabboni, que significa meu Mestre Superior2.
Consentâneo, uma das mais comuns manifestações de sentimentos é o toque físico.
Em pesquisa3 publicada na revista Nature Neuroscience, cientistas afirmaram que o toque caricioso possui propriedades terapêuticas. Ele aciona receptores táteis na pele, deflagram sinais elétricos que percorrem as redes neurais, e informam o cérebro de que nossa pele está sendo acariciada. Tal transmissão ocorre em fibras neurais especializadas. A descoberta foi feita por cientistas da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e pode explicar por que o toque carinhoso consegue diminuir a intensidade da dor física. Por intermédio de uma técnica conhecida como microneurografia, os pesquisadores “seguiram” esses impulsos no braço de voluntários até os centros cerebrais relacionados ao prazer, e observaram também que, quanto maior sua freqüência – proporcional à intensidade do afago –, maior a sensação de prazer relatada pelos participantes. Admirável, essas fibras especializadas, uma vez estimuladas, são capazes de atenuar sinais dolorosos originados em outras partes do corpo.
De forma cativante, Jesus não apenas era largamente tocado, como também com grande generosidade afagava aos intocáveis “imundos”, quase que continuamente1: "Jesus, pois, estendendo a mão, tocou-o, dizendo, - Quero; sê limpo. No mesmo instante ficou purificado da sua lepra", Mateus 8:3; "E tocou-lhe a mão, e a febre a deixou; então ela se levantou, e o servia", Mateus, 8:15; "E Jesus, movido de compaixão, tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram a vista, e o seguiram", Mateus, 20:34; "Responderam-lhe os seus discípulos,- Vês que a multidão te aperta, e perguntas: Quem me tocou?", Marcos, 5:31; "Jesus, pois, tirou-o de entre a multidão, à parte, meteu-lhe os dedos nos ouvidos e, cuspindo, tocou-lhe na língua", Marcos, 7:33; "Jesus, pois, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero; sê limpo. No mesmo instante desapareceu dele a lepra", Lucas, 5:13.
É preciso desconstruir o nosso modelo mental de um Cristo distante, inacessível, puro demais para ser tocado. Jesus se fez “homem” justamente para aproximar-se de nós, ser imitado, e, sobretudo, ser tocado por nós.
Em nosso intercâmbio íntimo com o Rabboni, seja pela prece, seja pelo trabalho na caridade, sintamo-nos encorajados em tocá-Lo, afagá-Lo, abraçá-Lo, posto que Ele assim o deseja, e de igual modo sempre retribuir-nos-á com Seu abraço reconfortante, e seu afago donde esparzi “grande poder que cura a todos”.
1. A Bíblia Sagrada, traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2ª edição. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
2. Oliveira, Therezinha. Estudos Espíritas do Evangelho. 6a Edição. Campinas, SP: Editora Allan Kardec, 2005. P. 154.
3. Toque afetivo ajuda a diminuir a dor física. Revista Mente e Cérebro, Ano XX, n 198, p. 22. Disponível na URL http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/toque_afetivo_ajuda_a_diminuir_a_dor_fisica.html.
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O N O M E D E D E U S
ARTIGO PUBLICADO NA "REVISTA CULTURA ESPÍRITA", DO INSTITUTO DE CULTURA ESPÍRITA DO BRASIL (ICEB), ANO II, N 13, ABRIL DE 2010, p.15.
Autor: Fabiano Nunes
(Impronunciável, pois o homem não seria digno de repetir o Nome de Deus)
Dentre os recursos pedagógicos que Jesus - com genial atilamento - aplicava, um se nos afigura de ímpar importância: a criação de imagens mentais.
Através de histórias belas e singelas, o Mestre Incomparável cunhava imagens visuais com riqueza de nuances, vivas e emocionantes, sempre bem situadas no contexto sócio-cultural dos ouvintes, para que fossem integralmente apreendidas. Desse modo, Jesus conduzia as mentes e os corações - de forma apaixonante - nas artes de pensar e de viver, enquanto, ao mesmo tempo, desvelava as Leis Naturais para todas as gerações de aprendizes, ao longo dos séculos (1).
O impacto dessas figuras visuais na alma dos ouvintes foi tão significativo que, mesmo mais de seis décadas depois, no período em que os Evangelhos teriam sido escritos, foram recordadas com sutilezas e precisão de informações.
Especial beleza é a abordagem do Mestre do Amor no que diz respeito à invocação do nome de Deus.
Naquele tempo, o povo hebreu conhecia mais de 21 denominações (2) para louvar, rogar, agradecer, ou para clamar ao Deus Único, com títulos que evocavam o arquétipo mental de um Soberano Supremo que imprimia grande respeito, mas também singular temor.
Conquanto, grande parte dos religiosos acreditava que o nome de Deus não deveria sequer ser pronunciado, em virtude da indignidade da criatura humana para proferir o Nome Divino, porquanto, havia um tetragrama (3) impronunciável – יהוה - o qual fora posteriormente transliterado para “YHWH”, e interpretado para as línguas modernas como Yahweh (Javé). Até no tempo presente, muitos Judeus Ortodoxos adotam tal prática.
No Antigo Testamento encontraremos as principais alcunhas4: Elohim, O Forte; Adonai, Senhor (Soberano); Yah, Eu Sou; Yahweh, Eu Sou que Sou; El, Deus; El Elyon, Deus Altíssimo; El Olam, Deus Eterno; El Shaddai, Deus Todo Poderoso; Yahweh Sabbaoth, O Senhor dos Exércitos.
Não obstante, Jesus subleva o pensamento corrente, apresentando ao povo (4) uma nova perspectiva de relacionamento entre a criatura e o seu Criador, e para tal fito – de forma original – ensina o emprego de uma nova referência para se dirigir a Deus:
- Abba.
- Abba.
Na tradução mais habitual (5), Abba significaria “Pai”, malgrado, modernamente encontraremos um novo entendimento para esse termo.
Conforme asseveram as ciências das religiões, e confirma a revelação mediúnica trazida por Francisco Cândido Xavier (6), Jesus falava a língua aramaica, em um dialeto muito específico usado nas cidades do Lago de Tiberíades.
Abba seria a expressão que as criancinhas da Galiléia usavam para falar com seu próprio pai, por conseguinte, tratar-se-ia de um nome informal, que equivaleria às expressões em português “paizinho” ou “querido pai” (7).
Jesus sempre demonstrou ser um professor extremamente “visual”, e numa formidável combinação de simplicidade e inteligência, desconstrói a temível imagem mental do Senhor dos Exércitos, insculpindo nos corações da humanidade o modelo de uma relação pessoal com Deus de grande magnanimidade, que evocava Sua própria relação com o seu paizinho, José de Nazaré, onde havia uma ligação plena em intimidade, proteção, confiança, provisão e, sobretudo, em amor que não mede sacrifícios pelos filhos.
Lembremos, porquanto, nos momentos de desalento que o Deus que Jesus nos ensinou a invocar não é, unicamente, O Criador do Universo, mas também o Paizinho Querido, que como tal devota inexaurível zelo pelos próprios filhinhos.
Um fraternal abraço, Fabiano Pereira Nunes
Referências Bibliográficas
1.Kardec, A. Por que Jesus Fala por Parábolas. In: A. Kardec, O Evangelho Segundo O Espiritismo (E. N. Bezerra, Trad.). Rio de Janeiro: FEB. pp. 427-31
2.Kaschel, W. Dicionário da Bíblia de Almeida (2 ed.). barueri, SP, 2005: Sociedade Bíblica do Brasil.p. 54
3.Extraído de www. wikipedia.org. (s.d.). Acesso em 22 de fevereiro de 2010, disponível em Wikipédia, a enciclopédia livre.: http://pt.wikipedia.org/wiki/Yahweh
4. Ryrie, C. C. A Bíblia Anotada: edição Expandida. Barueri, SP, 2007: Sociedade Bíblica do Brasil.p 8-9
5. Mateus, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: Bíblia de Jerusalém. Português. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002. Mateus, cap. 6, vers. 7-9, p. 1713.
6. Xavier, F. Candido. Ditado pelo espírito Emmanuel. Há Dois Mil Anos (42 ed.). Rio de Janeiro: FEB, 2002. P. 84
7. Drane, John. Enciclopédia da Bíblia. São Paulo, 2009: Edições Paulinas.p.175
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INOVAÇÃO
Artigo publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, Ano I, n. 02, Maio de 2009.
Autor: Fabiano Pereira Nunes
O mundo hodierno apresenta como qualidade das mais valiosas para o indivíduo a capacidade de inovar. Nessa visão contemporânea, ao mantermos um espírito de busca por novos caminhos, sempre procurando fazer algo de forma inusitada, tornar-se-ia possível avançar mais rapidamente pela vereda do progresso.
Igualmente, o espírito inovador também foi estudado pelos pesquisadores do campo da “Inteligência Emocional”, que apontaram ser a capacidade de inovação uma das competências emocionais mais relevantes para o sucesso, posto que faculta ao indivíduo sentir-se à vontade e aberto diante de novas idéias, novos enfoques e novas informações, condição imprescindível para a construção de produtivas relações interpessoais nas esferas profissional, social e familiar.
Inequívoco, Jesus desvelou-nos uma alta capacidade de inovar, na Sua vida de relação e na Sua tarefa messiânica. Para exemplificar isso, observemos o grupo que compôs seu discipulado.
Os publicanos constituíam uma classe altamente odiada pelo povo Hebreu, pois eram os funcionários à serviço do Império Romano, nas Províncias dominadas, responsáveis pela arrecadação de impostos, por isso mesmo, eram considerados altos traidores da Nação Hebreia. Ademais, nas alfândegas, pagavam-se exorbitantes impostos sobre o uso da terra, sobre o peixe pescado, sobre os produtos manufaturados, e sobre os produtos que circulavam entre as cidades, no entanto, o fruto dessa pesada arrecadação era direcionado à sede do Império Romano, e aos governos das tetrarquias da Província da Judéia, além dos percentuais faturados para o enriquecimento ilícito dos próprios publicanos, aumentando, assim, a indignação e a revolta contra esses rendeiros públicos. O pagamento era infligido à força dos soldados do Império, que não raramente violavam as residências dos devedores para fazer o arresto de seus bens, e sua prisão. Para agravar a situação, esse pagamento de impostos constituía uma afronta às Leis das Escrituras Sagradas: constituía, por conseguinte, de uma dupla traição. Porquanto, por vezes eles eram mais odiados que aos próprios dominadores de Roma.
Entre as classes que combatiam tais funcionários estavam os zelotes, grupo radical nacionalista que se empenhava no enfrentamento armado contra os traidores da causa judaica. Por isso, eram perseguidos pelo Poder Romano como sicários e assassinos, realmente, estabeleciam um juramento de esfaquear, no meio da multidão, todo judeu que estivesse associado aos romanos. Conquanto, os publicanos estavam entre os mais procurados pelos zelotes para sofrer tal atentado à vida. Havia, pois, um ódio mútuo.
De forma inusitada, apresentando ao mundo uma capacidade inovadora admirável, Jesus acolheu em seu grupo de 12 apóstolos dois representantes dessas duas categorias de inimigos mortais. Eram eles: Levi, o publicano de Cafarnaum; e Simão, chamado “O Zelote” (era outro discípulo com nome Simão, além de Simão Pedro).
Conforme nos revela o espírito Humberto de Campos, no capítulo 5 do livro “Boa Nova”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, “Levi continuava nos seus trabalhos da coletoria local, enquanto Judas prosseguia nos seus pequenos negócios, embora se reunissem diariamente aos demais companheiros.” Apreende-se, pois, que Levi permaneceu na sua função de publicano, o que torna mais assombroso e desconcertante o padrão inovador de Jesus, ao manter como irmãos dois discípulos em posições tão antagônicas.
Não seria equivocado imaginar as intensas pressões que Simão, O Zelote, também poderia ter sofrido de seus companheiros de partido, para que efetivasse sua promessa de retirar a vida do publicano.
Não obstante, mais do que discípulos-irmãos, Jesus os transforma em amigos fiéis e devotados, desconsiderando a extremista opção religiosa de Simão (os Zelotes, doutrinariamente, se alinhavam com os fariseus) e os conflitantes deveres profissionais de Levi.
Aprendamos, pois, em Jesus a renovar nossas posições e atitudes, criando modelos inovadores e imaginativos de relação interpessoal e de labores, sempre alicerçados no amor incondicional ao próximo que Ele nos demonstrou de forma tão prática e inteligível.
Um abraço fraternal do seu amigo Fabiano P Nunes.
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JESUS: EXTRAORDINÁRIA COMBINAÇÃO DE CORAGEM E COMPAIXÃO
Artigo publicado na "Revista Despertar Espírita", ano V, n.60, junho de 2008.
Autor: Fabiano P Nunes
A hanseníanse - não obstante já ser uma enfermidade curável – ainda prossegue envolta em muitos preconceitos e medos. No Brasil, até a década de 70, os portadores de hanseníase foram obrigados a viver em “colônias” de isolamento.
Tal carga de temor remonta eras ancestrais. No Velho Testamento, aparece, equivocadamente, sob a denominação de “lepra”. No livro de Moisés - O Levítico - encontramos Leis específicas para a vida dos portadores da doença de Hansen, sobretudo em seus capítulos 13 e 14. Nesses textos, deparamo-nos com a terminologia “imundos”, cujo sinônimo seria “impuro”, para os portadores da chamada “lepra”. Os Sacerdotes do Templo de Jerusalém possuíam autoridade coercitiva para examinar os hebreus que fossem suspeitos de portar as lesões lepromatosas na pele, e ao constatarem a presença da “lepra” os declaravam publicamente como “imundos”, determinando a expulsão desses hansenianos de seus lares, a destruição e queima de seus pertences, a adoção de uma aparência característica com vestimenta de maltrapilhos, com cabelos desgrenhados. Também estariam obrigados a proclamar em altas vozes a própria condição de “imundo”, tudo isso para garantir que não fossem tocados por qualquer pessoa, e que não houvesse aproximação alguma. Além disso, deveriam guardar distância em vários côvados (côvado era uma medida de distância, do inicio do cotovelo até o fim do dedo médio) das pessoas “limpas” sendo obrigados a viver fora dos muros das cidades, convivendo somente junto aos outros “imundos”.
Notadamente, as leis Mosaicas, como aquelas que tratam das condições que tornavam uma pessoa “imunda”, poderiam parecer discriminatórias e até desumanas, se analisadas isoladamente e fora do seu contexto sócio-cultural da época - não obstante - quando estudadas sob a óptica das ciências, como a moderna infectologia médica, seriam consideradas como medidas que serviram ao controle sanitário de gravíssimas doenças infecto-contagiosas. Por isso impunham regras de isolamento, sem as quais haveria a explosão de epidemias com altas taxas de contagiosidade.
Por outro lado, numa análise psicológica, poderíamos considerar que aquele povo escondia seus terríveis medos acerca da “lepra” usando essas leis como escudo, justificando de si para consigo, e para com a sociedade, atos que transbordavam preconceito, discriminação, e – sobretudo- aversão.
Felizmente, veio Jesus como O Amigo Verdadeiro dos excluídos e discriminados. Sua coragem e intrepidez marcaram de forma inapagável todos os seus passos. Através de exemplos de vida que reuniam uma extraordinária combinação de destemor, caráter e altruísmo, pregou de forma inolvidável, e estabeleceu uma nova abordagem ao problema da doença e dos doentes: a compaixão ativa, que de forma diferente da compaixão passiva transcende a esfera puramente emocional e supera todos os óbices, para mudar a vida dos desafortunados.
Com ímpar bravura, mantinha uma constante proximidade com os hansenianos, e com todos os considerados “imundos”, fato esse altamente surpreendente para os padrões religiosos da época, e altamente perturbador para aqueles que esperavam um Messias com as prerrogativas de um rei conquistador, pois além de romper as barreiras do preconceito para com esses “impuros”, de tratá-los com especial ternura e piedade, e de colocá-los na condição de amigos, se lhes aproximava fisicamente para acolhê-los, tocá-los e acariciá-los. Mantinha, contudo, completa obediência às leis de Moisés, demonstrando, por outro lado, sua correta interpretação à luz da Sua doutrina de amor.
Por exemplo, em Mateus (8:1 a 4): “Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. Disse-lhe, então, Jesus: Olha, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo”. Porquanto, a partir de ações grandemente impregnadas de compaixão ativa, que causaram um profundo impacto nos campos mental, emocional e espiritual daqueles enfermos, produziu curas prodigiosas, não só nos seus corpos adoecidos, como também nas suas almas enfermas e solitárias.
Destarte, O Mestre Devotado persiste fiel aos Seus amigos, levantando os decaídos e recuperando-os de suas mazelas, e permanentemente nos convida ao trabalho, para que também sejamos os braços e as mãos que servirão de instrumentos para que Ele prossiga tocando a humanidade, limpando-a de sua “lepra” moral, urgindo para isso que adotemos para nós os padrões de coragem e comiseração que O Amigo Incansável diariamente viveu e exemplou.
Fraternal abraço, Fabiano Pereira Nunes
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EU, PORÉM, VOS DIGO
Artigo publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, ano II, n. 21, dezembro de 2010, p. 15.
Autor: Fabiano P Nunes
Notáveis pesquisadores têm defendido a tese de que o “Jesus Histórico” teria assumido uma postura revolucionária 1, face às práticas correntes na sociedade religiosa do Seu tempo.
Realmente, para vários estudiosos das ciências históricas, a análise das assertivas contidas nos Evangelhos desvelaria a atitude de um religioso Judeu do Mediterrâneo 2 em antítese com os preceitos judaicos vigente à Sua época, que, por conseguinte, poder-se-ia considerar como um sedicioso.
Por exemplificação, observa-se na Pregação do Monte, conforme descrita no capítulo cinco de O Evangelho Segundo Mateus, um inequívoco intuito de desconstruir um pensamento vigente, substituindo-o por um conceito totalmente novo. O Mestre Amantíssimo empregara repetidas vezes a expressão: “Ouvistes que foi dito aos antigos (...)”, acompanhada, a seguir, de uma citação dos Livros Mosaicos; e concluindo a elocução, conduzira o pensamento dos ouvintes a uma nova interpretação da Lei Divina, ao aplicar expressão “Eu, porém, Vos digo (...)”. Por tal razão, àquele tempo Jesus fora perseguido pelas autoridades do Templo de Jerusalém como um antagonista das Leis de Moisés, conquanto Seus discursos fariam frontal contradita ao Pentateuco Mosaico.
Escrevera Moisés no Torá:
Êxodo, 21:24-25; olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.
Levítico, 24:19-21; Quando também alguém desfigurar o seu próximo, como ele fez, assim lhe será feito: quebradura por quebradura, olho por olho, dente por dente; como ele tiver desfigurado a algum homem, assim se lhe fará. Quem, pois, matar um animal restituí-lo-á; mas quem matar um homem será morto.
Nada obstante, pregara Jesus no Monte das Beatitudes:
Mateus, 5:38 -39; Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra.
Mateus 5:43-44; Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.
Em a perspectiva histórica, torna-se, pois, melhor compreensível o porquê da não aceitação - pela Religião Judaica - da condição Messiânica de Jesus.
Conquanto, dezenove séculos após, Allan Kardec, pseudônimo do eminente cientista e pedagogo francês Hipollyte Léon Denizard Rival - Apóstolo fiel e incansável de O Espírito de Verdade - elucida, definitivamente, tal problemática, em admirável hermenêutica 3:
“[...] A moral ensinada por Moisés era apropriada ao estado de adiantamento em que se encontravam os povos a quem ela estava destinada a regenerar. Esses povos, semi-selvagens quanto ao aperfeiçoamento da alma, não teriam compreendido que se pudesse adorar a Deus sem a realização de holocaustos, nem que fosse preciso perdoar a um inimigo. A inteligência deles, notável sob o ponto de vista da matéria e mesmo sob o das artes e das ciências, era muito atrasada em moralidade, e não seria convertida sob o domínio de uma religião inteiramente espiritual. Era-lhes necessária uma representação semi-material, como a que a religião hebraica lhes oferecia. Os holocaustos falavam aos seus sentidos, enquanto a idéia de Deus falava ao seu espírito. O Cristo foi o iniciador da moral mais pura, mais sublime; da moral evangélico-cristã que deve renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que deve fazer jorrar de todos os corações humanos a caridade e o amor ao próximo, e criar, entre todos os homens, uma solidariedade comum; enfim, de uma moral que há de transformar a Terra, e dela fazer uma morada para espíritos superiores aos que hoje a habitam. É a lei do progresso, à qual a Natureza está submetida, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca da qual Deus se utiliza para fazer a humanidade avançar. [...]”3
Outrossim, deveras relevante a perspectiva descortinada pela ciência médica, em transcendente aliança com a Doutrina Espírita. Em artigo publicado na revista Psychological Science 4, pesquisadores da Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, observaram que orar pelo bem do cônjuge auxilia na disposição por perdoá-lo, sobretudo quando a oração for feita na iminência de conflitos. No trabalho científico, as pessoas deveriam, em primeiro lugar, fazer uma descrição da pessoa por quem fariam a oração. Depois de apenas uma oração, os voluntários se mostraram mais dispostos a compreender o ponto de vista do outro e aceitar suas desculpas, em claro processo de empatia. O estudo científico descreve, do mesmo modo, um segundo experimento no qual os voluntários fizeram orações diárias por um amigo próximo durante quatro semanas, também demonstrando o poder apaziguador da prece.
Ao fanal da ciência e da Exegese Kardeciana, apreenderemos, porquanto, que Jesus não fora um subversor das Escrituras Sagradas, mas, ao contrário, notabilizara-se como O Mais Perfeito Intérprete das Leis Divinas, na história da civilização humana.
1. MEIER, John P. Um Judeu Marginal: repensando o Jesus histórico. Vol. I. Rio de Janeiro, Imago Ed: 1993.
2. CROSSAN, John D. Jesus, Uma Biografia Revolucionária. Rio de Janeiro, Imago Ed: 1995.
3. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 1. Ed., Rio de Janeiro, CELD Ed: 2008. Cap.I, item 9.
4. Comprovação do poder pacificador da oração. In: Revista Mente e Cérebro, edição online. Março de 2010. Capturado de em 01 de outubro de 10.
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VONTADE
Artigo publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, ano II, n. 22, janeiro de 2011, p. 15.
Autor: Fabiano P Nunes
"Mas o Cristo, que realizou milagres materiais, mostrou, por esses mesmos milagres, o que o homem pode quando tem fé, isto é, a vontade de querer, e a certeza de que essa vontade pode se realizar.” (1)
"Mas o Cristo, que realizou milagres materiais, mostrou, por esses mesmos milagres, o que o homem pode quando tem fé, isto é, a vontade de querer, e a certeza de que essa vontade pode se realizar.” (1)
Na vida contemporânea, ser dono de uma vontade vigorosa tem sido assinalado como uma das qualidades emocionais de maior proficuidade para uma vida plena em sucesso.
Define-se vontade(2) como a força interior que impulsiona o indivíduo a realizar algo, com o fito de atingir seus fins ou desejos; ou ainda, ânimo, determinação, firmeza, disposição, empenho, interesse, e zelo.
Indubitável, para superarmos todas as vicissitudes faz-se condição essencial a tenacidade e a perseverança. E como usual, em Jesus encontraremos o modelo de vontade e determinação mais diamantino, e também o mais inteligível e acessível para nossa vida humana
Não casualmente, por tal razão Allan Kardec asseverou3 que “para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode pretender na Terra”.(4)
O Amigo Fiel foi incansável na tarefa de ensinar a arte de viver. Em toda a Sua vida apreenderemos – de forma apaixonante - o sentido de uma existência impulsionada por decidido intuito de atingir objetivos, mesmo sob as condições mais tormentosas.
Conquanto, ao findar Seu ministério de amor e caridade na existência planetária, O Ungido de Deus apresenta-nos Sua derradeira lição acerca do uso da vontade vigorosa para a superação dos óbices. Jesus fora levado a uma condenação de morte infamante e cruel - a crucificação, pena aplicada exclusivamente aos soldados romanos desertores e aos mais vis criminosos – sofrendo, pois, as dores mais acerbas.
Pesquisadores de Rochester, Minn, EUA(5), desvelaram que Ele suportara a ignominiosa aplicação do flagrum, açoitamento que era a preliminar legal de todas as execuções romanas. O instrumento usado era um pequeno chicote tipo flagelum, com franjas de couro trançado de variadas larguras, cujas pontas continham pequenas bolas de ferro e pedaços de ossos de ovelha afiados, presos em intervalos. Para o açoitamento, o homem era despido e suas mãos amarradas num poste. As costas, nádegas e pernas eram açoitadas por 2 soldados, ou por 1, que alternava a posição. A severidade da flagelação dependia da disposição que os carrascos pretendiam deixar a vítima: desde apenas um pequeno colapso até a morte. Durante, e depois, do flagelamento os soldados sempre insultavam suas vítimas. Atesta-se que no Pretório Jesus foi severamente chicoteado. Apesar da severidade do flagelo não ser discutida nos quatro relatos evangélicos, está implícita em uma das epístolas de Pedro (I Pedro 2.24).
Os soldados romanos(5), repetidas vezes, golpearam as costas de Jesus com toda a força, porquanto, as bolas de ferro causaram grave traumatismo, ademais, as tiras de couro e os ossos, cortaram Sua pele, com lesões subcutâneas e musculares. Por conseguinte, as lacerações profundas produziram – além do traumatismo grave - intensa hemorragia, possivelmente até em órgãos internos. Acredita-se que o trauma, a dor e a perda de sangue devam ter levado a um estado circulatório de colapso definido como choque. Desta forma, mesmo antes de ser efetivamente crucificado, a condição física de Jesus era, no mínimo, crítica, fato esse que explicaria Sua desencarnação tão rápida na crucificação, haja vista que o condenado costumava levar dias para morrer em asfixia no madeiro.
Malgrado a condição clínica muito grave(5), em vez de imprecar ou ceder, Jesus não hesita em Sua coragem e obstinação, mas ao contrário, O Médium de Deus oferece ao mundo mais uma preciosa lição de ânimo, e robusta determinação: carrega o patibulum da cruz - a haste horizontal de madeira onde os punhos eram pregados no processo de crucificação, pesando entre 34 a 57 kg - do pretorium até o Gólgota, por mais de 600 metros, sem blasfemar, e nem sequer queixar-se. Dessa forma, O Mestre Amorável, ao ser pregado à cruz, transformara essa morte infamante numa epopéia inolvidável, exemplificando o amor, a fidelidade aos amigos e aos ideais, o perdão incondicional, e – de maneira especial – nos ensinou sobre como sustentar a firme disposição para lograrmos os fins anelados, ainda que nas condições mais ásperas. Tenhamos, pois, “a vontade de querer, e a certeza de que essa vontade pode se realizar.” (1)
1. KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Albertina Escudeiro Sêco. 1. Ed., Rio de Janeiro, CELD Ed: 2008. Cap.XIX, item 12.
2. HOUAISS, Antonio; Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0. Editora Objetiva Ltda. 2009.
3. Nota: As primeiras edições francesas de O Livro dos Espíritos, assim como as demais obras de Allan Kardec, podem ser lidas no site “Google Livros”, através da URL .
4. KARDEC, Allan. Le Livre Des Esprits. Quatorzième Édition. Didier Et Cie Libraires-Éditeurs, Paris: 1866. Q.625. p. 268.
5. EDWARDS, W. D; GABEL, W. J.; HOSMER, F. E. : On The Physical Death of Jesus Christ. In: JAMA, The Journal of The American Medical Association (Trabalho científico publicado pelo Departamento de Patologia da Mayo Clinics, Rochester, Minn, EUA). USA. 1986, mar 21, vol 255, n. 11, p 1455 – 1464.
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RELACIONAMENTO CONJUGAL
Artigo publicado na REVISTA CULTURA ESPÍRITA, do Instituto de Cultura Espírita do Brasil, ano II, n. 19, outubro de 2010, p. 15.
Autor: Fabiano P Nunes
Dentre os sinais que desvelam a transcendente Inteligência dos ensinos de Jesus, uma se nos apresenta de ímpar baliza: a sua praticidade e o seu pragmatismo, para todas as épocas da civilização cristã.
Dentre os sinais que desvelam a transcendente Inteligência dos ensinos de Jesus, uma se nos apresenta de ímpar baliza: a sua praticidade e o seu pragmatismo, para todas as épocas da civilização cristã.
Por estalão, encontraremos as preciosas lições acerca do relacionamento conjugal.
Na sociedade hebreia daquele tempo, a mulher ocupava uma posição de significativa inferioridade, não apenas nas esferas social e religiosa, como também na familiar.
Era prerrogativa do homem iniciar um processo de divórcio, o qual ele poderia exercer baseado em considerações que, hoje, pareceriam frívolas e dignas de riso. Descontente com a esposa, ao homem era facultado dispensá-la sem nenhuma compensação, dando-lhe carta de divórcio.
Tal disposição era fundada em inúmeros Livros Mosaicos, como por exemplo, o Deuteronômio (1), que diz: “Quando um homem tiver tomado uma mulher e consumado o matrimônio, mas esta, logo depois, não encontra mais graça aos seus olhos, porque viu nela algo inconveniente, ele lhe escreverá então uma carta de divórcio, e a entregará, deixando-a sair de sua casa em liberdade.”.
Em Jesus o povo hebreu encontrara genial discernimento na exegese do Antigo Testamento, através de sua real interpretação, à luz da Lei de Justiça, Amor e Caridade.
Sobre a mesma questão da relação entre cônjuges, narra-nos o evangelista Mateus (2), que: “Quando Jesus terminou essas palavras, partiu da Galiléia, e foi para o território da Judéia, além do Jordão. Acompanharam-no grandes multidões, e ali as curou. Alguns fariseus aproximaram-se dele, querendo pô-lo à prova. E perguntaram: É lícito repudiar a sua própria mulher por qualquer motivo? Ele lhes Respondeu: Não lestes que desde o princípio o Criador os fez homem e mulher?E que disse por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar. Eles, porém, objetaram: Por que, então, ordenou Moisés que desse a carta de divórcio quando a repudiasse? Disse-lhes ele: Pela dureza de vossos corações, Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas não foi assim desde o princípio”.
Apreendendo com as elucidações do Mestre Nazareno, entenderemos que Moisés legislara seus códigos de forma rígida, por vezes até intransigente e inumano, em função dos graves problemas sociais, culturais e religiosos que enfrentara com seu povo, ao longo de 40 anos de peregrinação no deserto, conquanto, decorridos mais de 1250 anos, essas leis tornaram-se grave peso para diversos grupos – como as mulheres, os doentes, os portadores de deficiências, os hansenianos - levando-os à condição de vulnerabilidade social. Malgrado, com Jesus uma nova perspectiva era desvelada para a Lei: a da igualdade entre todos e da justiça social. Mormente, no que tange a união matrimonial, o consórcio também se elevara em patamares nunca antes logrados.
O Rabboni, Mestre Superior, demonstrara que o enlace nupcial tinha procedência Divina, e como tal, deveria ser vivido santamente, intensamente e jubilosamente, em doação recíproca de amor e respeito. Tal ponto de vista era totalmente original para aquela Nação, e sublevava os padrões culturais da época.
Dezenove séculos depois das inolvidáveis luzes esparzidas pelo Cristo de Deus sobre o matrimônio, Seu devotado mensageiro – Hippolyte Léon Denizard Rivail, Allan Kardec – ofereceria ao mundo o mais admirável e didático estudo sobre o desponsório, o qual está contido em todo um capítulo de O Evangelho Segundo O Espiritismo (3), intitulado “Não Separeis O Que Deus Juntou”, promovendo integral harmonização das legislações – passada, presente e futura – com a moral cristã e a Vida Porvindoura.
Igualmente, deveras relevante a perspectiva descortinada pela ciência médica, em transcendente aliança com a Doutrina Espírita. Alguns estudos científicos (4) demonstraram que tendemos a criar laços afetivos com pessoas afáveis, sensíveis e atenciosas. Sentimentos de amor podem surgir com especial rapidez quando alguém adota um comportamento empático para se adaptar às nossas necessidades. O perdão também cria vínculos e cumplicidade.
Por conseguinte, através das claridades do Evangelho de Jesus, magnificadas pelas chaves oferecidas pela Codificação Kardeciana, é possível apreender, com facilidade, o sentido e o significado da união do casamento segundo a Lei Imutável de Deus, norteando, até mesmo, a lei mutável dos homens e a ciência médica.
1. DEUTERONÔMIO. O Antigo Testamento. In: Bíblia de Jerusalém. Português. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002. Deuteronômio, cap. 24, ver. 1, p. 287.
2. MATEUS, O Evangelho Segundo. O Novo Testamento, in: Bíblia de Jerusalém. Português. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002. Mateus, cap. 19, vers. 1 - 6, p. 1738.
3. KARDEC, Allan O Evangelho Segundo o Espiritismo.Tradução de Evandro Noleto Bezerra.Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. XXII.
4. O segredo do casal feliz: compartilhar alegrias. In: Revista Mente e Cérebro, edição 212, setembro de 2010. Disponível na URL http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/o_segredo_do_casal_feliz_compartilhar_alegrias.html
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O VALOR DAS MOEDAS NO NOVO TESTAMENTO
Artigo publicado na REVISTA DESPERTAR ESPÍRITA, ano V, n 58, abril de 2008.
Autor: Fabiano P Nunes
Dentre os recursos pedagógicos que Jesus - com genial inteligência - aplicava, um se nos afigura de ímpar importância: as parábolas.
Através de histórias belas e simples, sempre situadas no contexto sócio-cultural dos ouvintes para que fossem muito bem compreendidas, Jesus conduzia as mentes e os corações - de forma apaixonante - nas artes de pensar e de viver, enquanto, concomitantemente, desvelava as Leis do Criador para todas as gerações de aprendizes, ao longo dos séculos.
O impacto dessas parábolas na alma desses ouvintes foi tão significativo que, mesmo mais de seis décadas depois, no período em que os Evangelhos teriam sido escritos, foram recordadas com sutilezas e precisão de informações.
Porquanto, faz-se oportuno conhecer os meios de pagamento da época histórica de Jesus, com o fito de melhor apreender o sentido da mensagem ensinada pelo Sublime Rabi.
Denário (Mateus 22:19): era uma moeda romana de prata, sendo a unidade básica de pagamento romano por um dia de trabalho. Deu origem a palavra “dinheiro”.
Dracma (“Parábola da Dracma Perdida”, Lucas 15): moeda grega de prata, cujo valor era equivalente a 1 denário.
Ceitil (“Digo-te que não sairás dali enquanto não pagares o derradeiro ceitil”, Lucas 12:59): Moeda romana de cobre, cujo valor era equivalente a 1/16 do denário.
Quadrante (“A Esmola da Viúva Pobre”, Marcos 12:42): Moeda romana de cobre, cujo valor equivalia a 1/64 do denário.
Estáter (“vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter”, Mateus 17:27): Moeda grega de prata, cujo valor equivalia a 4 denários.
Mina (“Parábola das dez Minas”, Lucas 19): peça grega de ouro, cujo valor era equivalente a 100 denários.
Talento (“Parábola dos Talentos”, Mateus 25): peça em barra de ouro, cujo valor era equivalente a 6.000 denários.
Consentâneo, nos próximos trabalhos prosseguiremos nos estudos acerca do contexto social, cultural e político do período histórico em que viveu Jesus.
Votos de paz, do seu amigo Fabiano Nunes
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AUTOCONTROLE
Artigo publicado na REVISTA DESPERTAR ESPÍRITA, ano VI, N 69, março de 2009.
Autor : Fabiano P Nunes
Como parte do processo de evolução intelecto-moral, em nossas vidas seguramente haverá situações críticas, algumas com grave ameaça a nossa integridade física, emocional ou moral. Faz-se imperativo, pois, estarmos preparados para tais momentos, para que o equilíbrio prevaleça diante das vicissitudes.
O autocontrole – na visão da “Inteligência Emocional”- é uma capacidade de controlar, e redirecionar, impulsos e estados de espírito perturbadores. Nas situações nuviosas, faz-se condição essencial para a manutenção da harmonia interior, facultando o enfrentamento dos desafios e a superação das crises.
Lembremos sempre Jesus, que conforme a resposta à questão 625 de O Livro dos Espíritos, “para o homem representa o tipo da perfeição moral a que a humanidade pode aspirar na terra”.
Achava-se o Dileto Amigo nas suas últimas horas de vida na terra, tendo ido ao Monte das Oliveiras para aguardar os momentos de pungente dor que se sucederiam, e na companhia de seus discípulos buscava a oração, a vigilância, em Comunhão com Deus. De acordo com o evangelista Lucas, ajoelhou-se e orou. Portador de incomparável presciência, já antevia o sofrimento excruciante que lhe estaria reservado: a traição do amado amigo Judas, a prisão violenta pelos guardas do Templo de Jerusalém, a injustiça a que seria submetido em três tribunais corrompidos e ilegais, o abandono dos discípulos, as calúnias e as ofensas vociferadas por perseguidores cruéis, as dores da flagelação com o conseqüente choque hemorrágico, e a morte por asfixia numa cruz infame. Segundo Lucas (que era médico), Jesus agonizava nesse momento crucial, e sofria uma abundante transpiração misturada em sangue: “E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lucas cap. 22:44).
A ciência médica possui estudos desse fenômeno – a hemohidrose – no qual ocorre uma rotura dos vasos arteriais que suprem e envolvem as glândulas sudoríparas, causando a combinação da transpiração com o sangue proveniente das arteríolas rotas, tendo como causa uma severa descarga adrenérgica na circulação sanguínea. As situações de grande angústia e estresse são os fatores desencadeantes desse evento, conforme publicações médicas sobre o assunto, que estudaram o mesmo fenômeno em americanos condenados à pena capital, justamente nos momentos que antecederam a sua execução. Tem por conseqüência um estado de choque.
Malgrado, Jesus apresenta-nos inolvidável exemplo de autocontrole e superação. Sobrepujando um estado físico já muito comprometido pela própria hemohidrose, buscou na prece a Comunhão com Deus, e corajosamente levantou-se em direção da superação dos ásperos momentos que se seguiram: apresenta-se aos seus perseguidores impiedosos, docilmente cumprindo as injustas determinações das autoridades locais, protege os seus discípulos de uma condenação semelhante, controla uma iminente revolução por parte do povo que O amava e O defenderia em Jerusalém, aceita humildemente o flagrun e a crucificação, na hora derradeira confortando seus amigos e perdoando aos agressores, por fim doando a própria vida para alcançar e conquistar o coração enregelado de seus verdugos, e de toda humanidade.
Porquanto, nas pelejas árduas de nossas vidas, deixemo-nos arrebatar pelo Cordeirinho de Deus, para que Sua vida sirva-nos de inspiração e de bússola para a manutenção do autocontrole que logra a vitória do bem.
Um abraço fraternal do seu amigo Fabiano Nunes
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HUMANIDADE
ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA CULTURA ESPÍRITA - ICEB, ANO II, N. 24, MARÇO DE 2011
Autor: Fabiano Pereira Nunes
Autor: Fabiano Pereira Nunes
A interpretação para a expressão Filho do Homem sempre acarretou muitas controvérsias, e ainda hoje tem sido um dos grandes objetos de discussões nos estudos do Novo Testamento(1). Esse termo aparece 82 vezes no Novo Testamento(2), sendo empregada somente por Jesus nos evangelhos.
Naquele tempo, Filho do Homem não era reconhecido como uma titulação, nem na língua hebraica e nem na aramaica3. Tradutores do grego conjecturaram se não seria ela uma figura de linguagem cotidiana da época, derivada da própria palavra “homem”. John Dominic Crossan3, professor de estudos bíblicos na DePaul University de Chicago, EUA , assevera que tal expressão foi a única alcunha que Jesus relacionou explicitamente a si mesmo, conquanto, para esse eminente pesquisador, usando uma analogia poética, da mesma forma que o inglês emprega as palavras “man” para “homem” e “mankind” para descrever a “humanidade”, o aramaico talvez utilizasse Filho do Homem para assinalar a raça humana. Malgrado, essa tese ainda não encontrou consenso, prosseguindo à mesa de debates.
Allan Kardec - epíteto do cientista e pedagogo francês H.L.D. Rivail – cerca de um século e meio antes dos grandes autores contemporâneos, apresentou o fanal da exegese perfeita para as mais difíceis questões interpretativas do Novo Testamento. Também nesta temática, hermenêutica Kardeciana é ímpar, posto que dimana do próprio Pensamento do Cristo(4).
Em Obras Póstumas(5), o Apóstolo da Terceira Revelação oferece-nos definitivas elucidações sobre as diferenças entre as expressões “O Filho de Deus” e “O Filho do Homem”, assim como sobre a questão das naturezas divina e humana de Jesus. Para clarificar o contexto do termo “O Filho do Homem”, o fundador do espiritismo remete-nos ao livro do profeta Ezequiel. Nele, Deus referir-se-ia a Ezequiel usando tal denominação, com o fito de lhe lembrar que, não obstante o seu excepcional dom de profecia, ele não deixaria de pertencer ao restante da humanidade. Prosseguindo em suas aclarações insofismáveis, ainda no que diz respeito à figura de linguagem “Filho do Homem”, o insigne educador Lionês definiu a mais segura exegese para o termo:
[...] “Jesus dá a si mesmo essa qualificação com persistência notável, pois só em circunstâncias muito raras ele se diz Filho de Deus. Em sua boca, não pode ter ela outra significação, que não lembrar que também Ele pertence à Humanidade” [...]
Igualmente inolvidável é a elucidação de Allan Kardec acerca da resposta6 dos Bons Espíritos sobre “qual é o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e de modelo”, no caso, “Vede Jesus.” O incansável servo de O Espírito de Verdade assevera que “Jesus é para o homem o tipo da perfeição moral a que a Humanidade pode pretender(7) na Terra.” [...]
O Ser Humano Jesus de Nazaré é altamente cativante e inspirador. Deus no-lo ofereceu como um padrão de “humanidade” que podemos vivenciar, sem pretensões. De igual modo, ninguém foi tão humanista e humanitário quanto o dileto filho de Maria e José de Nazaré. Por ora, a "Divindade" de Jesus é ainda para nós inatingível, em face da distância que nos separa da condição de Espírito Puro, nada obstante, Sua "humanidade" é perfeitamente reproduzível, totalmente passível de repetição. Foi para fazer-nos compreender esse ponto de vista que Jesus – modestamente - alcunhou a si mesmo pela nomenclatura O Filho do Homem, em substituição do título do Messias - "O Filho do Deus Altíssimo".
Porquanto, em sublime Projeto Divino, o Filho do Deus Altíssimo converteu-se em Filho do Homem, e, ensinando-nos a viver numa condição humana de plenitude, levar-nos-á a todos – que efetivamente somos filhos dos homens - a alçarmos a condição de “Filhos do Deus Altíssimo”.
Refletindo sobre a extraordinária demonstração de compaixão, humildade e empatia do Nazareno, ressoemos a vida humana de Jesus, jamais olvidando que somente nas linhas morais do Cristo é que atingiremos a Humanidade Real(8).
1. Drane, John. Jesus, sua vida, seu evangelho para o homem de hoje. Tradução de Macintyre.São Paulo: Edições Paulinas, 1982. p. 49
2. Bíblia. Português. Bíblia de Jerusalém. Nova edição rev. e ampl. São Paulo: Paulus, 2002, 2206 p.
3. CROSSAN, John Dominic. O Jesus histórico: a vida de um camponês judeu mediterrâneo. Trad. André Cardoso. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1994, 543 p.
4. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 33. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Segunda parte, p. 307-308.
5. KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Tradução de Guillon Ribeiro. 33. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2003. Primeira Parte, Item IX, p. 149-153.
6. KARDEC, Allan. Le Livre Des Esprits. Quatorzième Édition. Paris: Didier Et Cie Libraires-Éditeurs, 1866. Q.625. p. 268.
7. O grifo e a tradução são nossos.
8. Xavier, Francisco C. Fonte Viva. Pelo espírito Emmanuel. 23. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 1999. Cap. 127, p. 287.
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